01.06.2003 | Histórias
O livro Portinholas foi lançado em 2003, no ano do centenário de Candido Portinari. Ele traz a parceria entre uma escritora, que também é pintora, e um pintor que gostava de escrever.
Ana Maria se considera primordialmente uma pintora, tendo estudado alguns anos no museu de Arte Moderna do Rio e de Nova York. Ela já fez exposições e pinta há mais de quarenta anos, apesar de não expor mais.
Ela já declarou que a arte é parte integral da sua vida e que não poderia se imaginar sem ela.
Mas, por outro lado, é através da literatura que Ana encontrou o melhor canal para se expressar. Mais do que isso, é um ofício que lhe dá um imenso prazer: "Adoro o meu trabalho. Ainda bem, porque acho que não ia conseguir viver se não escrevesse."
Em maio de 2003, Ana Maria visitou Brodowski, em São Paulo, terra natal do pintor, para o lançamento do livro. Ana voltou encantada com o museu Casa de Portinari, feito com muito carinho na casa onde o pintor morou, em frente à pracinha onde brincavam as crianças e se armava o circo que ele pintou. Por perto, em outra praça, o coreto onde o pai do pintor tocava na banda. Ana adorou, no jardim da casa, uma capela que Portinari fez para a avó e revestiu internamente de murais com os santos preferidos dela, usando como modelos as pessoas da família. A museóloga Angelica, que dirige o Museu, faz um trabalho excelente com arte e educação e a garotada da região aproveita bastante. Vale a pena conferir.
Com a palavra, Ana Maria:
“ Este livro levou anos amadurecendo. Nasceu de dois projetos distintos. Um era o sonho de fazer uma história ilustrada com pinturas de Portinari. Outro era a idéia de trabalhar com desenhos infantis e explorar as diferenças entre expressão pessoal e criação artística. De um jeito atraente para crianças, sem dar a impressão de aula.
Achei que festejar o centenário de Portinari me dava a chance de realizar o primeiro sonho. Mal comecei a selecionar o material, descobri que estava trabalhando também com a segunda idéia, guardada há tanto tempo, junto com os desenhos de minha filha Luísa quando era pequena. Os dois projetos se fundiram.
O resultado é um suspiro de admiração diante dos mistérios da criação artística. Que impulso leva o ser humano a se manifestar por meio de desenhos, música, histórias, dança? Em que ponto essa manifestação espontânea passa a procurar a beleza? Como essa beleza deixa de depender do tema e pode ser atingida mesmo quando parte de coisas consideradas banais ou feias? Como se chega à arte, capaz de tocar a emoção e a razão dos outros? Qual o milagre que transforma uma obra que retrata apenas o que está dentro de seu autor em uma obra em que a humanidade cabe dentro?
Este livro não pretende dar resposta a nada disso. Quer apenas festejar o centenário de Portinari, o mais consagrado pintor. Mas também lembra que a arte levanta questões como essas.
Tomara que ajude a abrir portinholas e escancarar portas para o mundo da arte.
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